Alfabetização musical
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O passo a passo de uma aula
Ouvir, cantar, ler(ver), escrever e criar
Segue uma explicação a respeito de cada passo da aula. Importante salientar que os exercícios sugeridos podem ser utilizados em todas as 14 aulas obedecendo as PARTES. Todos os exercícios estão disponíveis em vídeo para melhor compreensão.
Ouvir
A partir do momento que escutamos, nos relacionamos com o som, seja de forma consciente ou inconsciente. Por exemplo, pare e observe o ambiente em que você está agora. Que sons você consegue escutar? Percebe que eles já estavam no ambiente, e de maneira inconsciente você recebia esses estímulos. Agora, colocando sua atenção, você traz esses sons para a consciência. O foco auditivo muda de acordo com onde está sua atenção. E interessantemente, às vezes de súbito toma consciência de um som, mesmo sem estar prestando atenção nele... Como quando numa sala de aula, de repente você percebe o quanto é irritante o barulho do ar condicionado.
Cantar
As sílabas funcionais em sua aplicação são a forma mais natural de construção da autonomia do domínio das alturas sonoras. O professor leva cantigas, cânones, pequenas melodias improvisadas e provoca a audição e recepção sonora do aluno para que logo em seguida o aluno repita por imitação o que o professor fez. Aqui já temos a prática inicial que vai sustentar a metodologia: o ouvir e o cantar. Da mesma forma que quando aprendemos a falar, vamos escutando as palavras e com o tempo as repetimos por imitação, assim também o fazemos com as sílabas funcionais. Em relação às melodias, no fundo já estão “vivas” dentro dos alunos apenas esperando serem nomeadas pelas sílabas funcionais.
Quantas vezes já escutamos nossas canções prediletas? Tanto na música instrumental, como na vocal, as silabas funcionais estavam lá, apenas ainda não estavam decodificadas. E esse será o caminho a ser seguido pelo aluno. O tempo todo o professor estará provocando, alfabetizando por meio das sílabas funcionais. A relação entre os sons sempre terá o mesmo nome, primeiro grau de qualquer escala maior em qualquer altura é “dó”, o segundo grau é “ré”, e assim por diante como já foi explanado acima.
Quantas vezes já cantamos “Parabéns para você” e em quantos tons já variamos essa melodia? Exatamente no “vo” do “você” está a tônica maior, o “dó” móvel! Mais fácil ainda de perceber no final da música, “... muitos anos de VIDA!”.
Ler
Antes de começar a ler ou escrever uma melodia vamos fazer exercícios, brincadeiras, estímulos de escrita relativa no pentagrama sem clave, fixando o “dó” em qualquer linha ou espaço. A prática de caminhar no pentagrama pintado no chão da sala de aula também traz o entendimento da organização dos sons nas linhas e espaços sem a preocupação do som fixo. Ver os sons no pentagrama em bloco, em grupos e não um de cada vez, vamos voltar a falar sobre o assunto adiante.
A função da clave é determinar a altura do som e servir ao instrumento que melhor se adapta àquela extensão, utilizando o mínimo possível de linhas suplementares - lembrando que as claves também são relativas pois temos os instrumentos transpositores, como a maioria dos instrumentos de sopro e até mesmo o violão e baixo, que soam oitava abaixo do que está escrito.
Quando for ensinar as claves já estará tudo dominado e visto como uma coisa só, e não será necessário ter que aprender a ler em sete claves diferentes.
Neste livro vamos trabalhar especificamente com os “333 exercícios de pentatônica” do método Kodaly. Com base nesse material, vários exercícios, variações, e jogos serão apresentados com objetivo principal de desenvolver a noção de altura, os sons relativos e a leitura relativa. Nessa primeira etapa vamos usas compasso binário, com escrita de semínimas e colcheias, pois o foco está na melodia.
O solfejo é mais que isso, é uma ferramenta de musicalização, de alfabetização em todo o contexto musical (intervalos, escalas, cadências, acordes, etc.). A leitura fluente é mera continuidade dessa prática. Existem metodologias de solfejo absoluto – cantar os nomes das notas, sistema fixo ampliado – e relativo – o sistema numérico, e o dó móvel. Neste livro temos como base o “dó móvel”.
vamos focar no ensino de Solfejo, apresentando as primeiras 14 aulas de TAS
Escrever
Depois das práticas ligadas ao ouvir, cantar e ler, naturalmente chega a possibilidade da escrita. Um exercício fundamental de passagem para a escrita é caminhar no pentagrama. As pegadas e o próprio formato do calçado já seria uma cabeça de nota escrita. Imagine molhar os seus pés em uma grande almofada de carimbo, e seus pés são os carimbos. Ao caminhar no pentagrama surgiriam as cabeças de nota impressas nos espaços e linhas. O professor caminha no pentagrama pedindo para a turma “solfejar” os seus passos, e a seguir “desafia” o aluno a fazer a atividade (vídeo tal).Também pode dividir a turma em dois grupos, e cada um segue um pé, parte da turma solfeja o caminho do pé direito e a outra parte o pé esquerdo tendo como resultado um exercícios a duas vozes. Depois, o professor pode cantar pequenas frases melódicas para o aluno e pedir para ele as reproduzir no pentagrama - agora não seria simplesmente caminhar no pentagrama, mas uma espécie de dança tendo como desafio manter o ritmo, a quantidade de sons dentro de cada pulso, de acordo com a frase dada (vídeo tal).
Agora o aluno está pronto para a última fase: a escrita musical. Existem áudios de melodias inéditas para ditado, específicos para cada aula.
Dividimos a escrita em seis passos para facilitar o processo:
Primeira fase:
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Ouvir: o aluno deve estar totalmente focado no ato de ouvir, e nada mais.
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Decorar: nesse momento é importante que o aluno se conscientize de quantas vezes ele precisa ouvir para decorar. Alguns precisarão escutar duas vezes, outros mais de dez... O aluno só deve passar para a próxima etapa após decorar a melodia. É um ato de treinamento de decorar; acostumar desde o início a decorar melodias completas - não apenas a primeira e a segunda nota, mas entender a frase como um todo. Em sala de aula, o professor pode escolher alguns alunos e pedir para que cantem a melodia, e assim perceber a média de repetições que a turma precisa para decorar – cantar com “nan, nan, nan” ou qualquer sílaba que NÃO SEJA as sílabas funcionais.
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Decodificar: aqui é o momento de o aluno identificar quais são as notas funcionais. As notas já estão delimitadas pela lição, o que facilita o processo. Ele vai perceber se as notas se repetem, sobem ou descem em grau conjunto, ou se são saltos maiores, e aí a sensação das sílabas funcionais vem naturalmente. As notas se entregam para o aluno.
Segunda fase:
Todos os exercícios dessa fase devem ser escrito e cantado ao mesmo tempo. Ver o vídeo explicativo!
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Colocar o pulso: Como a apostila de ditado melódico já tem a quantidade de compassos determinada para cada exercício, basta apenas colocar os pulsos em cada compasso. O foco desta fase do método é a altura, por isso para facilitar os compassos estão prontos, todos são binários e a semínima sempre será a unidade de tempo. Assim nos afastamos o mínimo possível do foco. Vamos escrever pequenos tracinhos na parte de baixo do compasso cantando a melodia já decorada e observando se dentro do pulso contem um som, dois sons ou pausa. Semínima, colcheia ou pausa de semínima que são as figuras de tempo que aparecem nesta fase. Enquanto coloca o pulso se canta a melodia decorada.
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Colocar as cabeças: Depois de colocado o pulso, dependendo da quantidade de sons escutados que aparecem as cabeças serão escritas na direção do “pequeno tracinho” na parte de baixo do compasso como foi descrito acima. As “células” (figuras de tempo) para cada tempo serão organizadas acima do traço. As cabeças são escritas em formato oval como grãos de feijão e não arredondado com ervilhas. O traço deve ser leve e rápido para poder fluir no decorrer da escrita, enquanto coloca-se a cabeça canta-se a melodia decorada.
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Colocar as hastes: As hastes devem ser colocadas de cima para baixo e ao encostar na cabeça canta-se. Para semínimas e colcheias essa técnica funciona perfeitamente
Criar
Momento de passar a atividade do fazer musical para o aluno. Ele precisa se sentir responsável pela produção e emissão dos sons estudados. Todos os passos anteriores (ouvir, cantar, escrever) são importantes, pois permitem que o aluno se torne íntimo dos sons e tenha segurança para criar. Agora ele vai mostrar sua particularidade. Tem aluno que é mais racional, tem aluno que é mais criativo, uns mais desinibidos, mas ali ele tem a ferramenta dentro dele (o som interiorizado). Sensação que é importante no processo do criar, o aluno está carregado daquela energia sonora, e aquilo o torna seguro para poder experimentar, e criar. Sempre criar essa sensação de independência.
Segundo Ian Guest, é o método da autoestima. A autonomia, o aluno começa a desenvolver o caminho individual dele. É a separação do professor, libertando o aluno. O aluno como um ser individual na prática musical dele. Ele vai ter elementos pra começar a pesquisar. Como exemplo, certa vez uma aluna estava lavando louça e começou a escutar “s, l, d”... e quando se deu conta, era o vendedor de gás entoando “olha o gás” do lado de fora da sua janela.